"Respondeu-lhe
Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração,
de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro
mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas"
(Mt 22.37-40).
O mundo à
nossa volta está promovendo o amor-próprio e a auto-estima. A
auto-estima é um aspecto popular da psicologia humanista, que é
baseada na crença de que todos nós nascemos bons e que a sociedade
é a culpada. Esse sistema coloca o homem como a medida de todas as coisas.
A ênfase no ego é exatamente o que começou no Jardim do
Éden e se intensifica através dos ensinos humanísticos
do amor-próprio, da auto-estima, da auto-realização e auto-etc.
Promovendo a auto-estima, a Força-Tarefa Pela Auto-Estima na Califórnia
foi a grande responsável por introduzir a ideologia e psicologia humanista
nos setores público e privado. (É interessante notar que, em meados
de 1988, a Força-Tarefa prestou tributo ao rei da auto-estima, James
Dobson, destacando-o em seu boletim informativo. Além disso, seu livro
Hide and Seek aparece na lista de leitura deles).
A influência
da Comissão Pela Auto-Estima na Califórnia se espalhou pelos EUA.
John Vasconcellos promoveu uma iniciativa em âmbito nacional sobre a auto-estima,
semelhante à que introduziu na Califórnia. Vasconcellos deixou
muito claro que o movimento da auto-estima deveria operar, como tem feito, contra
o ensino que ele considerava antiquado, ou seja, que o homem é um pecador.
Segundo ele, havia uma dupla visão da humanidade no país: (1)
o homem como sendo pecador, e (2) como intrinsecamente bom. Ele declarou que
esta era a questão subjacente do movimento da auto-estima. Por não
crerem em Jesus Cristo, os humanistas seculares têm o ego como o único
centro de interesse do indivíduo. Assim podemos entender por que aqueles
que não conhecem a Cristo desejam amar, estimar e satisfazer o ego, pois
é a única coisa que têm. E qual é a desculpa da Igreja?
O que há
sob toda a retórica referente ao ego é um ataque ao Evangelho
de Jesus Cristo, embora não se trate de um ataque frontal com limites
de batalha claramente delineados. Ao contrário, na verdade é uma
obra engenhosamente subversiva, não de carne e sangue, mas de principados
e potestades, de dominadores deste mundo tenebroso, das forças espirituais
do mal nas regiões celestes, tal como Paulo explicou na parte final da
carta aos Efésios. É triste sabermos que muitos cristãos
não estão alertas contra o perigo. É incontável
o número dos que estão sendo sutilmente enganados por um outro
evangelho – o evangelho do ego.
Percebemos
que muita confusão tem envolvido a Igreja professa pelo uso da terminologia
popular a respeito do ego. Em um extremo, encontramos pessoas como Robert Schuller
que, de acordo com seu livro Self-Esteem: The New Reformation, parece
ter abraçado inteiramente a postura humanista secular. Ele abomina o
termo pecador e acredita que a pessoa deve desenvolver a sua auto-estima
antes que possa conhecer a Jesus. Ele descarta por completo o que realmente
conduz o indivíduo para a cruz de Cristo. Por outro lado, há os
que, inconscientes das implicações e da confusão que tais
palavras acarretam, vêm lançando mão desta terminologia.
Adotando e adaptando-se aos conceitos da psicologia humanista, cristãos
professos dizem que temos auto-estima, amor-próprio, valor-próprio,
etc., por causa daquilo que somos em Cristo, mas a ideologia subjacente vem
atrás.
Com o progresso
da influência e da popularização da psicologia, a ênfase
em Deus foi deslocada para o ego por uma grande parte da igreja professa. De
formas muito sutis, o ego vai tomando o primeiro lugar e, assim, a atitude de
ser escravo de Cristo é substituída pela de se fazer o que agrada
e que seja para sua própria conveniência. O amor aos outros só
é praticado se for conveniente.
Com toda esta
ênfase no ego, é natural que os cristãos perguntem se é
correto amar a si mesmo. Como Jesus responderia? Embora não seja ardilosa
como as dos escribas e fariseus, a questão requer uma resposta "sim"
ou "não". O "sim" leva facilmente a toda espécie
de preocupação consigo mesmo. E o "não" conduz
a um possível: "Bem, então devemos nos odiar?" Nem sempre
Jesus respondia como esperavam seus ouvintes. Em vez disso, Ele usava a pergunta
como oportunidade de lhes ensinar uma verdade. Sua ênfase sempre era o
amor de Deus e o nosso amor a Ele e aos outros.
Lingüisticamente,
em toda a Bíblia, o termo agapao é sempre dirigido aos
outros, nunca a mim mesmo. O conceito de amor-próprio não é
o tema do Grande Mandamento, mas apenas um qualificativo. Quando Jesus ordena
amar a Deus "de todo o teu coração, de toda a tua alma,
de todo o teu entendimento e de toda a tua força" (Mc 12.30),
Ele enfatiza a natureza abrangente desse amor agapao (amor-atitude, que
vai além da capacidade do homem natural, sendo possível exclusivamente
pela graça divina). Se Ele usasse as mesmas palavras para o amor ao próximo,
estaria encorajando-nos à idolatria. Contudo, para o grau de intensidade
de amor que devemos ao próximo, Ele usou as palavras "como a ti
mesmo".
Jesus não
nos ordenou a amar a nós mesmos. Ele não disse que havia
três mandamentos (amar a Deus, ao próximo e a nós mesmos).
Ele apenas afirmou: "Destes dois mandamentos dependem toda a
Lei e os Profetas" (Mt 22.40). O amor-próprio já está
implícito aqui – ele é um fato – não uma ordem.
Nenhum ensino nas Escrituras diz que alguém já não
ama a si mesmo. Paulo afirma: "Porque ninguém jamais odiou a
própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo
o faz com a igreja" (Ef 5.29). Os cristãos não são
admoestados a amar ou a odiar a si mesmos. Amor-próprio, ódio-próprio
(que é simplesmente uma outra forma de amor-próprio ou preocupação
consigo mesmo), e auto-depreciação (possivelmente uma desculpa
para culpar a Deus por não conceder ao ego maiores vantagens pessoais),
são atitudes centradas no eu. Os que se queixam da falta de amor-próprio
geralmente estão insatisfeitos com seus sentimentos, habilidades, circunstâncias,
etc. Se realmente odiassem a si mesmos, eles estariam alegres por serem
miseráveis. Todo ser humano ama a si mesmo.
Em toda a Escritura,
e particularmente dentro do contexto de Mateus 22, a ordem é dirigir
aos outros todo o amor que o indivíduo tem por si. Não nos é
ordenado que amemos a nós mesmos. Já o fazemos naturalmente. O
mandamento é que amemos os outros como já amamos a nós
mesmos. A história do Bom Samaritano, que segue o mandamento de amar
o próximo, não só ilustra quem é o próximo,
mas qual é o significado da palavra amor. Nesse contexto, amor
significa ir além das conveniências a fim de realizar aquilo que
se julga ser melhor para o próximo. A idéia é que devemos
procurar o bem dos outros do mesmo modo como procuramos o bem (ou aquilo que
podemos até erradamente pensar que seja o melhor) para nós mesmos
– exatamente com a mesma naturalidade com que tendemos a cuidar de nosso bem-estar.
Outra passagem
paralela com a mesma idéia de amar os outros como já amamos a
nós mesmos é Lucas 6.31-35, que começa com as palavras:
"Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós
também a eles." Evidentemente Jesus supunha que Seus ouvintes
quisessem ser tratados com justiça, amabilidade e misericórdia.
Em outras palavras, queriam ser tratados com amor e não com indiferença
ou animosidade. Para esclarecer esta forma de amor em contraste com a dos pecadores,
Jesus prosseguiu: "Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa?
Porque até os pecadores amam aos que os amam... Amai, porém, os
vossos inimigos..."
O amor que
Jesus enfatiza é o demonstrado por atos, do tipo altruísta e não
o que espera recompensas. Dada a naturalidade com que as pessoas satisfazem
suas próprias necessidades e desejos, Jesus desviou-lhes o foco da atenção
para além delas mesmas.
Essa espécie
de amor pelos outros procede primeiro do amor de Deus, e somente depois
de respondermos sinceramente ao amor dEle (de todo o nosso coração,
de toda a nossa alma, de todo o nosso entendimento). Não conseguiremos
praticá-lo a não ser que O conheçamos através de
Seu Filho. As Escrituras dizem: "Nós amamos porque ele nos amou
primeiro" (1 Jo 4.19). Não podemos realmente amar (o amor-ação,
agapao) a Deus sem primeiro conhecermos o Seu amor através da
graça; e não podemos verdadeiramente amar o próximo como
a nós mesmos, sem primeiramente amarmos a Deus. A posição
bíblica correta para o cristão não é a de encorajar,
justificar ou mesmo estabelecer o amor-próprio, e sim a de dedicar sua
vida por amor a Deus e ao próximo como [já ama] a si mesmo.
(adaptado de um artigo de PsychoHeresy Update).
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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Como Amo a Mim Mesmo?
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